domingo, 29 de abril de 2012

Por recorde, Robert Scheidt aposta no feeling contra tecnologia e fala em adeus no Rio-2016


http://espn.estadao.com.br

Sentado às margens da represa de Guarapiranga, Robert Scheidt é a imagem da concentração. Aos 39 anos, o velejador responde a todas as perguntas com calma e sem rodeios – como se a experiência e a habilidade para manejar os barcos das classes Laser e Star se estendessem às palavras.

Concentração, experiência e habilidade. Estas são três das chaves para que Scheidt deixe a Olimpíada de Londres, em agosto, com o status que nenhum brasileiro alcançou até hoje: o de tricampeão olímpico.

Dono de duas medalhas de ouro e uma de prata na classe Laser, o velejador mudou de barco e foi o segundo colocado na Star em 2008, ao lado de Bruno Prada. Para Londres, a expectativa é de brigar novamente pelo pódio, que seria o quinto na carreira. Mais um recorde, igualando o amigo e ídolo Torben Grael.

Mas os recordes, por si só, não seduzem Scheidt. A fama, também não. O que move o velejador é a busca pelos limites e, mais do que isso, o prazer de competir. Ou, como ele diz, a simples sensação de tocar o barco e sentir ele mais rápido.

Essa mistura entre prazer e feeling é uma das grandes motivações do bicampeão olímpico e será fundamental em Londres. Afinal, os ingleses Iain Percy e Andrew Simpson, atuais campeões olímpicos e maiores adversários de Scheidt e Prada, terão a seu favor mais do que o fato de competirem em casa: o barco britânico é dotado de recursos tecnológicos como um sistema revolucionário de telemetria - um computador que diz qual é o momento exato de fazer cada manobra.

Não bastasse esse desafio, os Jogos de Londres têm um significado ainda maior para Scheidt. Na Inglaterra, ele deve fazer sua última Olimpíada longe do Brasil. Ao ESPN.com.br, o velejador revelou que os Jogos do Rio, em 2016, devem ser os últimos de sua carreira nas classes olímpicas.

Por recorde, Scheidt aposta no feeling contra tecnologia e fala em adeus no Rio-2016
Por recorde, Scheidt aposta no feeling contra tecnologia e fala em adeus no Rio-2016
Crédito da imagem: Reuters
Leia na íntegra a entrevista com Robert Scheidt:

ESPN.com.br - Quatro olimpíadas, quatro medalhas, duas de ouro, Você chega a Londres podendo igualar o recorde de medalhas do Torben Grael, além de bater o número de medalhas de ouro. É algo em que você pensa no dia a dia?
Robert Scheidt - 
Se acontecer, ótimo. Para o Brasil, pra mim pessoalmente, para nossa dupla, ótimo. Mas não é uma coisa que eu gaste muito do meu tempo pensando, porque isso tira um pouco do foco. A gente tem de pensar no que vai fazer para ganhar; não no que vai acontecer se ganhar.

ESPN.com.br - A classe Star, pela qual você competiu em 2008 e competirá em Londres, é a mesma que consagrou o Torben. Ele te passa algum tipo de instrução ou serve de inspiração para o seu trabalho?
RS - Eu tive o privilégio de compartilhar com ele algumas olimpíadas – em 1996, 2000 e 2004. Depois disso migrei para a classe Star, ele fez a regata de volta ao mundo. Em 2008, ele não competiu e, nessa fase final para Londres, já estava desmotivado. Mas a gente se espelha muito na dupla deles, uma dupla que teve muito êxito em olimpíadas, no momento de maior pressão eles sempre conseguiram entregar um grande resultado. Uma das características principais da dupla Torben e Marcelo é que sempre estiveram muito tranquilos e em um astral muito positivo na época da olimpíada. Normalmente as duplas ficam sérias, excessivamente concentradas, mas eles conseguiam manter um clima leve. Isso é algo que a gente tenta levar para nossa campanha, é o maior exemplo que eu tiro do Torben: um grande competidor na água, mas com uma atitude tranquila, relaxada. Pra nós, é uma honra e uma responsabilidade estar na mesma classe deles.

ESPN.com.br - A classe Star ainda não está garantida nos Jogos do Rio, e você nunca escondeu a vontade de competir no Brasil. Com a Star fora, quais seriam as possibilidades? 
RS - Vamos esperar para ver se a Star realmente fica de fora, espero que não fique, porque seria um barco ideal para velejar no Rio, com vento fraco. Inclusive o Ben Ainsle [inglês que disputou com Scheidt na classe Laser em 1996 e 2000] já anunciou que, se o Star ficar, ele vem para o Star.Para a mídia seria excelente, pra mim também seria, eu adoraria velejar de novo contra ele. 

Mas tem algumas possibilidades: a volta ao Laser, por exemplo. Seria fácil? Não, porque eu já estou com uma idade mais avançada. Mas não acho impossível. Teria a classe Finn, que eu teria de ganhar um peso muito grande, por isso acho mais complicado, e tem a classe 49, que é uma classe em dupla.

Como eu disse, não adianta ficar especulando isso, me preocupando. A minha vontade é subir, melhorar até 2016. Acho que tenho lenha para queimar ainda, para então chegar em 2016 e encerrar minha carreira olímpica lá, porque aí já deu o que tinha que dar.

ESPN.com.br - Você está anunciando a despedida para 2016, então?
RS - Não posso dizer que desta água não beberei, mas eu não me vejo indo além disso. Acho que se eu chegar ao Rio com 43 ainda com chance de brigar por uma medalha, acho que legal, ótimo, mas seria o momento de passar o chapéu. Vou continuar velejando, que é o que gosto de fazer, mas não nas classes olímpicas. Há outras maneiras de velejar, também.

ESPN.com.br - E no dia seguinte à Olimpíada do Rio, em 2016, o que o Robert Scheidt vai fazer?
RS - Eu já faço palestras para a garotada, já doamos mais equipamento, tem algumas ações que eu faço. Mas é claro que eu quero devolver mais para um esporte que me deu tanto. No que puder contribuir, vou contribuir para os futuros talentos. Hoje, quando posso, ajudo a garotada do Laser, o pessoal me pergunta, pede conselhos.

Mas quero continuar velejando, não sei qual o barco. Eu tenho alguns convites pra velejar internacionalmente, em barcos de oceano, regata de volta ao mundo. Tive até convite no ano passado para a Americas Cup, acabei não entrando porque teria de escolhar entre a Olimpíada e a Americas Cup. Mas a vela tem um leque bem aberto, dá pra fazer muita coisa.

Bruno Prada e Robert Scheidt vão em busca do ouro em Londres
Bruno Prada e Robert Scheidt vão em busca do ouro em Londres
Crédito da imagem: Divulgação
ESPN.com.br - Falando na Olimpíada de Londres: a dupla inglesa tem uma tecnologia no barco deles que vocês não têm. O quanto isso pode pesar a favor deles?
RS - Eles têm esse equipamento, que chama PI-garda. É uma caixa-preta e você consegue, através de mensurações em tempo real, saber qual a melhor maneira de realizar uma manobra, e também pode testar velocidade do barco trocando regulagens. Com esse equipamento, o velejador não precisa mais fazer as coisas no feeling: ele te mostra se as mudanças estão fazendo o barco mais rápido ou não.

ESPN.com.br - E por que você e o Bruno não usarão esse equipamento?
RS - Para nós seria muito tarde começar usando isso em cima da Olimpíada. Não valeria a pena, porque você precisa ter um cara que transforme esses dados em uma coisa real. Não adianta a gente começar a trabalhar, ter um monte de dados e não conseguir transformar isso em uma coisa real que a gente possa utilizar. É uma coisa que, se trabalharmos três anos em cima, pode dar algum resultado. Eles já usam isso desde Atenas.

ESPN.com.br - Eles usarão o equipamento. E vocês,  vão com o velho e bom feeling?
RS - No fim das contas, nada supera a sensação de estar tocando seu barco e sentindo ele mais rápido ou não. Você está sentindo ele na mão. Ali, naquele momento, nenhum equipamento é melhor do que isso. Eu não vejo a gente hoje com uma deficiência muito grande com relação a isso.

ESPN.com.br - Existe, no mundo da vela, uma preocupação de que essa tecnologia ganhe espaço a ponto de tirar um pouco a importância do velejador, como aconteceu na Fórmula 1, por exemplo?
RS - Na Americas Cup a tecnologia já é pesadíssima. Agora as classes têm de se proteger quanto a isso com os equipamentos. Tem que colocar tolerâncias. O Star, por exemplo, é um barco com tolerâncias grandes e então cada barco tem uma característica diferente. O jeito é diminuir as tolerâncias para não ter tanto espaço para mexer. Se não, o custo estoura. As classes mais puras são as classes em que o material é fornecido – a laser, a prancha a vela – que você chega lá, recebe o material com o qual você vai competir e acabou. O cara de um país pobre vai competir de igual para igual com o americano e o inglês. 

ESPN.com.br - Por falar em inglês: qual é sua relação atual com o Ben Ainslie? [Inglês que causou polêmica ao "marcar" Scheidt em Sydney-2000]
RS - Ele me respeita e eu respeito ele. A gente se cumprimenta e troca uma ideia. Mas não somos grandes amigos, daqueles de jantar juntos. É uma relação de respeito. Não guardo mais rancor porque já passou tanto tempo, não vale a pena. Aprendi duramente com aquela situação e, se acontecesse mais tarde, eu não reagiria daquela maneira, teria muito mais experiência para lidar com aquilo. 

Se você for pensar bem, eu perdi pro velejador que está prestes a se tornar o melhor do mundo em todos os tempos, porque ele vai pro quarto ouro agora.

ESPN.com.br - Já está contando com o ouro para ele na classe Finn, então?
RS - Tranquilo. É a medalha de ouro mais garantida de todos os tempos. Vai ganhar sem a medal race.

ESPN.com.br - Mas você vai dar aquela ‘secada’ nele?
RS - Não tem nem como secar. Ele está tão acima dos outros. É um velejador melhor, tem o melhor equipamento, estará competindo em casa e tem o melhor time de técnicos em volta dele. Não vejo como ele consegue perder. A não ser que aconteça algo como quebra de mastro ou ele ficar doente. Num dia normal dele, ninguém ganha.

domingo, 22 de abril de 2012

Surfe quer aproveitar onda olímpica e entrar para o programa do Rio 2016


Cameron Spencer/Getty Images
Campanha da Confederação Brasileira quer esporte como exibição nos Jogos
André Avelar, do R7
Berço do esporte de praia no Brasil, a Cidade Maravilhosa quer aproveitar a onda olímpica e incluir o surfe no Rio 2016. Mas ainda alguns resquícios de preconceito e, principalmente, a dificuldade de produzir ondas em locais sem praia atravancam a entrada do esporte no programa dos Jogos Olímpicos.
Mas para convencer o Comitê Olímpico Internacional (COI), a Confederação Brasileira de Surfe (CBS) lançou o projeto “Rio 2016: Surf na Olimpíada”. Até mesmo um abaixo-assinado oficial foi criado na página Rio Surf 2016 para que as pessoas possam defender a modalidade na Olimpíada.
- O surfe está pronto para ser reconhecido e continuar encantando o mundo. A nossa ideia é fazer uma apresentação como a consolidação do Rio como um berço desse esporte. Seria uma verdadeira festa de praia. Somente um movimento mundial pode incluir o surfe na Olimpíada. Com vontade política, as coisas podem acontecer – disse Romeu Andreatta, diretor da CBS.
Uma das capitais mundiais do surfe, a Austrália também tentou, sem sucesso, incluir o esporte em seu programa. Sydney 2000 começou e no ano passado o assunto voltou a ganhar força. Para se tornar olímpico, um esporte precisa ser praticado em pelo menos 75 países e quatro continentes no caso dos homens e 40 países e três continentes para as mulheres.
Mas mais do que isso, mesmo se for enquadrado nesses critérios, isso não significa que o esporte já se tornará olímpico. O esporte também tem de apresentar alta competitividade e com fáceis locais de competição.  O surfe conta com 20 milhões de praticantes em mais de 100 países.
- O surfe tem esse desafio que não apresentou nada em ondas artificiais. Fica seletivo em um país sem costa. A gente não consegue produzir onda artificialmente… Ainda! Não conseguimos para 2020, mas nós vamos voltar a reivindicar – disse Andreatta.  Baku (Azerbaijão), Doha (Catar), Istambul (Turquia), Madri (Espanha) e Tóquio (Japão) disputam a candidatura para os Jogos Olímpicos de 2020. 
Política antidoping
Com campeonatos organizados e cada vez mais dinheiro envolvido, a Associação dos Surfistas Profissionais (ASP) adotou a política antidoping, cumprindo as regras da Agência Mundial Antidoping (Wada). Apesar dos atletas de hoje serem saudáveis, a contracultura ainda é motivo de preconceito.
Na ocasião, Kelly Slater, 11 vezes campeão mundial, criticou a medida e chegou a dizer que o surfe não se tratava de um esporte de alto rendimento e o doping não ajudaria em nada. O surfe sempre caminhou na linha entre esporte e estilo de vida selvagem.
A Rede Record mostrará a Olimpíada de Londres 2012 com exclusividade na TV aberta brasileira, e também pela internet, por meio do R7. A Record detém ainda os direitos de transmissão dos Jogos Pan-Americanos de Toronto 2015 e da Olimpíada do Rio de Janeiro 2016.
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